O uso de fones de ouvidos tem sido uma prática cada vez mais frequente, não apenas entre jovens e adultos, mas também pelas crianças. O tempo de uso diário que as pessoas permanecem com seus fones de ouvidos aumentou abruptamente nos últimos anos, principalmente nesse período pós pandemia, em decorrência da necessidade do distanciamento social e aumento do uso de dispositivos eletrônicos para a comunicação em geral.
Afinal, estamos há quase dois anos mais dentro de casa, com muitas atividades on-line, o que propicia o uso de fones por mais tempo, seja para ouvir música, nos jogos eletrônicos, na comunicação com amigos e familiares em vídeo chamadas ou mesmo para atividades de trabalho e educacionais.
Dessa forma, a exposição aos sons dos dispositivos eletrônicos, com volumes elevados e por período diários prolongados, passou a ser um dos maiores fatores de risco para perda auditiva.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde ( OMS) , atualmente 466 milhões de pessoas no mundo sofrem de algum tipo de perda auditiva, o que representa 6,1% da população mundial. Sendo que, 16% das causas de deficiência auditiva dos adultos no mundo é devida à exposição à ruído abusivo. Outro dado importante é que, 50% das pessoas entre 12 e 35 anos correm o risco de sofrer perda auditiva, devido à exposição prolongada a sons intensos, sobretudo pelo uso excessivo de dispositivos eletrônicos com fones de ouvido.
A OMS estima que até 2050, uma em cada quatro, pessoas terá perda auditiva incapacitante.
Os números são assustadores, entretanto é preciso ressaltar que metade desses casos podem ser evitados, apenas com orientações sobre alguns cuidados.
A perda auditiva induzida pela exposição excessiva a sons elevados, é irreversível, mas passível de prevenção.
A prevenção é sempre a melhor forma de cuidarmos de nossa saúde, inclusive da saúde auditiva. Por isso atente-se aos meios de reduzir danos à sua audição e faça check-ups auditivos regularmente.
Qual nível de intensidade do som é seguro?
O National Institute for Occupational Safety and Health ou NIOSHI, agência federal dos EUA responsável pela realização de pesquisas e produção de recomendações para a prevenção de lesões e doenças relacionada com o trabalho, estabelece Limites de Exposição Recomendados (REL), para várias exposições, com base na melhor ciência e prática disponíveis.
Os estudos sugerem que os limites de exposição recomendados estão vinculados ao tempo de exposição. Para sons de 85 dBs, a exposição máxima é de 8 horas/dia.
As exposições neste ou acima deste nível, são consideradas perigosas.
Então, é muito importante pensarmos sobre qual é a nossa dose diária de exposição a sons, sobretudo quando isso ocorre pelo uso de fones de ouvidos.
Qual a dose diária recomendada de exposição?
A dose de exposição a ruído baseia-se tanto no nível de intensidade sonora como no tempo de duração. A regra é simples: para cada aumento de 3 dB na exposição média ao ruído, o tempo de exposição admissível é reduzido pela metade. Por exemplo, se a exposição aumentar de 85 dBs para 88 dBs, o tempo de uso deverá ser reduzido para quatro horas/dia. A inversa é também verdadeira, ou seja, para cada diminuição de 3 dB da exposição média ao ruído, o tempo de exposição admissível é duplicado.
Qual a dose semanal de exposição, por meio de uso de fones de ouvidos recomendada?
Atualmente um grupo de pesquisadores ligados à Organização Mundial de Saúde, denominado “Making Listening Safe”, preocupada em como tornar nossa audição mais segura com o uso de fones de ouvidos, criou uma tabela que mostra a intensidade por tempo de uso de fones por semana.
O estudo estabelece que para o período de uma semana (7 dias), com tempo de uso de fones por 40 horas, a intensidade máxima recomendada é de 80dBs.
Veja na tabela abaixo:
Mas como saber sobre o nível da intensidade ao qual você está exposto?
Existem alguns aplicativos para celulares que funcionam como um decibelímetro. No entanto, há algumas outras formas, mais simples de você se proteger.
Seguem abaixo algumas dicas práticas, que vão te auxiliar nesse controle.
1- Quando estiver com fones de ouvidos, verifique se você consegue ouvir e manter uma conversa com outra pessoa a um braço de distância. Caso você não consiga, isso pode significar que o volume do seu fone esteja ultrapassando 85 dB.
2- Use sempre os fones de ouvidos nas duas orelhas.
Ouvir pelas duas orelhas, traz consigo como vantagem um ganho de 6dB, pelo fenômeno denominado somação binaural. Esse ganho fará com que você não sinta tanta necessidade de aumentar muito o volume do dispositivo.
3- Limite o volume (nível de intensidade) da saída de som em seus dispositvos eletrônicos, estabelecendo como uma saída máxima de 80dB. Alguns celulares e computadores mais modernos, já tem essa trava de segurança nas configurações de ajustes. Você também pode encontrar programas gratuitos que fazem essa limitação em seus computadores. Aqui seguem duas sugestões:
- Sound lock – esse programa bloqueia o volume quando ultrapassa o limite estabelecido
- Quiet on the set – esse programa, além da permitir a limitação de volume e tem também a possibilidade de travar esse limite, com uma senha (indicado para que crianças pequenas e adolescentes não alterem os níveis da saída)
4- Caso esteja em ambientes fechados e muito ruidosos, opte pelos fones com cancelamento de ruído. Mas evite esses fones em locais abertos, com trânsito do veículos, tais como ruas, avenidas, parques, etc… para sua segurança.
5- Limite o uso da barra do volume, utilizando até a metade do dial.
6- Lembre-se de que a dose diária de uso de fones de ouvidos é inversamente proporcional ao volume utilizado. Quanto mais alto o volume do som, menor o tempo de uso de fones de ouvidos.
7- Pare de usar fones de ouvidos se sentir zumbido, sensação de ouvidos cheios, dor de ouvido ou dificuldade ouvir e entender. Procure um Fonoaudiologo e um médico otorrinolaringologista.
8- Coloque em sua rotina de exames uma avaliação auditiva por ano, ou sempre que tiver qualquer sensação de ouvidos tapados, zumbido ou dificuldade para ouvir
Raquel Munhoz, CRFa 2-5488
Fonoaudióloga Especialista em Audiologia Clínica pelo Cediau e Responsável Técnica no Núcleo de Audiologia
Título de Especialista em Audiologia pelo CFFa 2079-03
Fonte:
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/280085/9789241515276-eng.pdf
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